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Desorganização contábil ameaça pequenos negócios

De acordo com o Sebrae, 48% das micro e pequenas empresas brasileiras encerram as suas atividades por falta de planejamento financeiro e descontrole


A desorganização contábil é um dos obstáculos para a saúde financeira e, consequentemente, para a sustentabilidade de uma empresa de qualquer porte. Para os pequenos negócios, então, a falta de planejamento acaba sendo uma trava para o crescimento da empreitada, travando seu desenvolvimento. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 48% das micro e pequenas empresas encerram as suas atividades devido a problemas envolvendo a falta de planejamento financeiro e descontrole de caixa.


Entre os problemas que levam à interrupção das atividades dessas empresas, a falta de organização correta dos números ocupa o topo da lista, de acordo com o especialista em Finanças e Contabilidade do Sebrae-PE, Cleto Paixão.

Apesar de muitas vezes dominarem bem a atividade principal do negócio – produzir, costurar, revender ou prestar serviços – uma parte significativa dos empreendedores acaba esbarrando na falta de controle contábil. Uma das consequências disso é que, sem registrar os números, o empresário perde a noção de para onde o dinheiro está indo e não consegue saber se as vendas estão gerando lucro ou prejuízo.


Monitoramento


Para Cleto, a situação funciona como dirigir no escuro. “Essa organização é de suma importância para que ele tenha condições de gerir sua empresa e tomar decisões assertivas quanto ao seu negócio”, afirmou.


É nesse ponto cego que muitas empresas acabam se perdendo. Ao perceber que o empreendimento estava crescendo, o proprietário da Pahoa Burguer, Ramon Barata, identificou um problema: o preço dos lanches estava correto, mas a empresa não tinha lucro.


Eu não sabia para onde estava indo o dinheiro, onde estava sobrando, onde estava sendo um gasto desnecessário, onde eu poderia cortar e onde eu poderia investir para voltar mais dinheiro”, afirmou.


Hoje, a Pahoa conta com quatro operações e mais de 30 colaboradores diretos, faturando aproximadamente meio milhão de reais por mês. A empresa mantém unidades em Boa Viagem e Casa Amarela, que operam apenas no modelo delivery, uma em Piedade, além de uma filial em Minas Gerais.


A primeira unidade, no entanto, quase chegou à falência, com dívidas no cheque especial e em cartões de crédito. A superação veio com a reorganização financeira, que permitiu separar contas pessoais das empresariais, criar centros de custo por loja e acompanhar indicadores de desempenho. Com menos de um ano de planejamento, Ramon já conseguiu abrir a segunda operação.


Quando comecei a expandir para a segunda unidade ficou muito mais fácil, porque já sabia o que pertencia a cada loja e a partir de quando eu retiraria minha participação nos lucros. A clareza nos números trouxe segurança para tomar decisões e planejar o crescimento”, explicou.


Dicas


O caminho para evitar essa sensação de desconhecimento sobre o andamento da própria empresa é o registro aliado ao acompanhamento das informações.


Por menor valor que seja, tudo que entrar e tudo que sair tem que ser registrado no controle, para um resultado assertivo”, orientou o especialista em Finanças e Contabilidade do Sebrae-PE.


Segundo ele, essa confusão gera descontrole, pode comprometer pagamentos e até levar a complicações com o Imposto de Renda. Isso porque, quando o empresário mistura o dinheiro da empresa com o pessoal, acaba movimentando valores altos na conta-corrente própria.


Isso gera duas consequências, segundo Cleto: falta de controle sobre o que é gasto da empresa e o que é despesa pessoal, e risco de pagar mais impostos. Ao cair na conta do empreendedor, o valor pode ser tributado como renda pessoal, com alíquotas mais altas do que as aplicadas às pessoas jurídicas, alertou.


Fluxo de caixa


Já o contador Paulo de Tarso alertou como esse problema pode afetar diretamente o fluxo de caixa.


“A chance de ter dificuldades de fluxo de caixa é enorme. Imagine que a empresa recebeu uma determinada receita em um período e o empreendedor subestimou os valores que teriam que pagar de tributos sobre essa receita e utilizou o dinheiro para um fim pessoal”, exemplificou, acrescentando que, dessa maneira, a prática começa a bagunçar o financeiro e deixar a empresa sem recursos para cobrir as suas despesas operacionais, o que em curto e médio prazo inviabiliza o negócio.


Precificação


Um erro frequente entre pequenos empresários é a falta de critério na precificação dos produtos. Paulo de Tarso explica que simplesmente multiplicar o custo por dois ou três não garante lucratividade. Sem calcular corretamente despesas fixas, variáveis e margem de lucro, o risco é vender bastante e, ainda assim, não alcançar o retorno esperado.


Para não correr esse risco, o contador Matheus Barreto defende que o primeiro passo é abrir uma conta bancária exclusiva para a pessoa jurídica, de modo que todas as movimentações financeiras passem por ela. Outro ponto fundamental é definir um pró-labore, ou seja, um valor fixo de retirada mensal que funciona como o “salário” do empresário. Essa prática garante previsibilidade para o gestor e impede que recursos do negócio sejam utilizados de forma desordenada.


Barreto chama atenção ainda para os erros cotidianos que parecem inofensivos, mas que acabam prejudicando os resultados da empresa. Ele cita outro exemplo da consequência das transferências frequentes da conta empresarial para a pessoal sem registro adequado, quando dão a falsa sensação de que o caixa está saudável, mas geram desequilíbrio no capital de giro e dificultam a apuração correta dos lucros. Outro problema recorrente é o uso do cartão de crédito empresarial sem organização das despesas.


“O cartão de crédito empresarial é um grande vilão quando não utilizado da maneira correta. Muitos empresários concentram diversas despesas no cartão da empresa, mas não categorizam essas compras corretamente. Resultado: a fatura vira uma “caixa-preta” difícil de analisar, e o negócio perde visibilidade sobre seus custos reais”, disse Matheus.


De acordo com o contador, a chave para fugir desses problemas está na disciplina. A separação rigorosa entre contas pessoais e empresariais e o registro consistente de todas as movimentações garantem maior controle financeiro, fortalecem o planejamento tributário e asseguram a sustentabilidade do negócio a longo prazo.


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Fonte: Folha de Pernambuco, por Julia Rocha.

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